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NAS CURVAS DA MONTANHA

Capitulo 4

Armando o acampamento

Declaro que neste riacho não existe mais ouro! A única coisa que encontrei foi lama e cascalho dentro do canal. Olho ao redor e já não consigo mais ver Gleidson que  trinta minutos atrás, disse que ia procurar uma entrada para o carro descer até perto da árvore. Vai saber de que espécie ela é. Na falta de um nome fica sendo simplesmente “Arvore”.

Comecei a ficar com medo de ficar aqui sozinha. O lugar está tão abandonado, não tem cerca nem nada. As únicas barreiras são aquelas árvores nas margens da estrada lá no alto e esse barranco do outro lado do rio. Mas o lugar é tão lindo!

Os garimpeiros deixaram uma manta de cascalho que, em sua maioria são brancos ou em tom meio laranja. Estava tudo espalhado e com uns poucos montes ainda por ali mas, o mato já tentava cobrir tudo. Acho que mais alguns meses e todo aquele lugar irá desaparecer, coberto pela mata. Já no rio, o represamento e canalização da maioria da água para o canal de lavagem do cascalho da impressão que o rio estava atormentado naquele ponto. É que vinha uma aguinha calma e serena lá do meio do mato e de repente, ela ficava brava e zangada, tendo que se espremer enquanto tentava vencer essas barreiras para reter o extinto ouro que extraíam daqui. Assim que vencia seu obstáculo, o riacho voltava a seguir seu rumo em paz. Lugar bonito esse afinal.

Resolvi me aventurar pelas pedras do dique e conferir o que havia do outro lado. É humilhante mas eu não sei nadar e mesmo tendo como adversário um rio tão raso e calmo, meu medo me obriga a passar pelas rochas amontoadas, meio que engatinhando. Ainda bem que ninguém esta vendo esta cena ridícula. Eu aqui, com a bunda pro ar e apalpando as pedras com as mãos, hora tropeçando, outras se borrando de medo. Parei por um instante e levanto a cabeça para olhar o quanto faltava para alcançar o outro lado e para minha surpresa, não havia avançado muita coisa e desisti do plano. Tentei subir em um monte de cascalho e também não consegui ver além da margem do rio. Pulei do monte de cascalho e me afastei o máximo possível e nenhum sucesso. Foi aí que ouvi a buzina do carro e resolvi seguir o rastro de Gleidson pelo caminho que subia se afastando do rio, rumo à estrada e foi aí que percebi que dalí talvez eu veja o outro lado do rio. Fui caminhando e de vez em quando olhava para trás mas a subida era lenta e não via mais do que mais daquelas arvores tortas típicas do serrado. Não dava para ver muita coisa alem de mais mato e opa! O carro se aproximou de onde eu estava mas o mato ali era mais denso. Até dava para ver por onde Gleidson passou. As moitas dobradas ou visivelmente agredidas, mas para mim, ainda era muito mato.

Enquanto roçava o mato com as pernas, voltei a ouvir o carro sendo ligado e se movimentando. Entrei em uma passagem apertada. Acho que apertada demais para um carro. Talvez uma carroça passasse por ali antigamente, mas um carro? Bom, parece que Gleidson acha que é possível. Nosso carro acelera forte e de repente ouço o som seco de uma batida e uma nuvem de poeira avançou sobre mim. Cobri a boca com a camisa mas não adiantou muito. Resolvi avançar assim mesmo e bastou alguns passos para avistar a merda feita. Assustei-me com a cena. Vi o carro lá, cego de um olho em meio a uma tempestade de poeira que impedia de ver o lado de dentro do carro até que o limpador do pára-brisa passa uma única vez e lá está o grande motorista com cara de bunda olhando pra mim.

Depois que a poeira baixou e de ter ouvido meia dúzia de versões sobre o acidente, resolvemos seguir com o plano de descer com o carro por aquele caminho. Fui na frente, ajudando a não esbarrar as laterais do carro no barranco. O carro foi passando apertadinho, fomos avançando por onde dava mas sempre evitando passar perto do rio. Fizemos um pequeno ziguezague pelos montes de cascalho até chegarmos o mais próximo possível da árvore. Ficamos a apenas alguns metros do nosso esconderijo. Enfiamos o carro debaixo de umas arvorezinhas para não ficar tomando sol e descarregamos nossas coisas. Agora é só armar a barraca e enfim comermos alguma coisa. Nossa como estou faminta!

Era maravilhoso estar ali em companhia da pessoa amada longe de preocupações do dia a dia. Por mim o tempo pararia ali naquele exato momento, mas nem tudo é como desejamos. Distraímos-nos, o tempo passou e quando nos demos conta já tinha voado muito mais de uma hora. A fome bateu e era a hora de nos prepararmos para montar a barraca, escolhermos o lugar perfeito sob a copa da árvore  que dava uma sombra boa e suficiente para  nos proteger do sol, do frio ou de alguma eventual chuva.

Gleidson sempre diz que armar e desarmar um acampamento é uma ciência. Ele justifica essa teoria relembrando outros episódios, onde ele viu tantas pessoas se atrapalhando para montar suas próprias barracas. Aquelas varetas, é para a maioria, um terror anunciado. Ele via o pessoal chegando ao cúmulo de especular que alguém havia colocado varetas a mais no pacote. Mexem, enfiam e esticam de todo modo e nada de utilizar todos os pedaços das barracas. E para desmontar, era a mesma coisa só que invertido. Dobram e redobram o tecido da barraca e nada dela voltar a caber dentro do seu pacote. A nossa usa três enormes varetas. Como ela é grande, com capacidade para 5 pessoas, montá-la sozinho fica bem difícil mas com duas pessoas vai tranqüilo. Pena eu mais atrapalhar do que ajudar na montagem. Como eu ficava mais olhando Gleidson indo pra lá e pra cá, puxando aqui e prendendo ali, qualquer coisa serve para tirar minha atenção então, nada melhor do que apreciar a natureza. Dei uma boa olhada ao nosso redor e avistei uma imensa teia de aranha. Demorei um pouco para encontrar a autora mas lá estava ela. Se tem um bicho que Gleidson tem repulsa são as aranhas, mas ele nunca assume o fato e costuma dizer “Elas lá e eu aqui. Se não mexerem comigo, eu não mecho com elas”. O fato é que se uma cruzar seu caminho, certamente ela será destruída mas ele também respeita o território das arainhas e assim tudo fica em paz.

Evitamos ao máximo destruir as samambaias e fizemos apenas algumas trilhas entre elas. Montamos nossa barraca um pouco ao lado da cabana destroçada. Seu interior agora, seria o nosso banheiro. Banheiro com paredes é um privilégio por ali. Cavamos um buraco para o número 2 e penduramos o saquinho de lixo no ladinho. Tinha uns matinhos rasteiros que espetavam a bunda durante os trabalhos mas isso, faz parte da vida selvagem sendo inevitável esse desconforto. Os mosquitos também querem participar mas eles são expulsos por um pedaço de esterco queimando e gerando muita fumaça. Na ausência disto, pó de café também resolve. Basta fazer um montinho e acender com isqueiro mas prefiro mudar de assunto.

Como o nosso carro é de passeio, não dá para carregar muito peso então, nem pensar em levar um fogãozinho ou botijão de gás. Sendo assim, o negócio é improvisar e nisso, levo vantagens porque sempre acho algo útil para a construção de um fogãozinho a lenha. Melhor ir a luta e vasculhar as redondezas antes que escureça. Não distanciando muito da visão de Gleidson colocando as coisas pra dentro da barraca fui em busca de alguma coisa para construir o fogão. Com olhos fixos ao chão, rumei em direção ao rio. Talvez eu encontre algumas pedras interessantes.

Nas margens do rio, acabei encontrando umas rochas com formatos bem convenientes e acabei montando um belo fogão. Coloquei nossa grelha em cima e já comecei os trabalhos na cozinha. Acabei fazendo o fogão bem próximo de nós. Como ali não tinha corrente de vento devido ao barranco e as árvores ao nosso redor, não havia problemas em telo assim tão próximo.

Agora, o objetivo é catar lenha então, lá vou novamente rumo ao rio catar gravetos e galhos secos pelas redondezas. Isto me faz lembrar o meu tempo de criança, quando ia para um lugarejo próximo da minha casa, com meus tios e via aquelas senhoras carregando fechos de lenha na cabeça equilibrando com maior tranqüilidade e concluí que, ainda bem que lá em casa tem fogão a gás. Não deu para evitar uma risadinha. Gleidson mais que depressa mesmo de longe ouviu e já pergunta – Por que está rindo? – e logo respondo – Estou dando graças à invenção do fogão a gás – e saio catando galhos e gravetos cantando “lata d’água na cabeça lá vai Adriane, lá vai Adriane”. 

Já na minha segunda viagem carregando lenha, notei que Gleidson já havia esticado o nosso varal, estendido uma lona de tecido entre a barraca e o fogão e colocado tudo dentro da barraca ou no lado dela. Já estava tudo arrumadinho e aconchegante. Ele estava tentando encaixar uma pedra chata bem fica por baixo da lenha dentro do fogão. Segundo ele, era para manter o calor e facilitar a manutenção do fogo aceso.

Fizemos sanduíches e comemos. Já não agüentava mais beliscar biscoitos. Trouxemos 2 caixas de isopor pequenas com perecíveis e o nosso gelo, também é a água que beberemos. A gente congela água em garrafas pet e vamos aproveitando a água gelada das garrafas enquanto elas vão derretendo. Assim os alimentos não entram em contado com a água, o que aumenta a sua durabilidade e não causa problemas como formigas que atraídas pela água que vaza dos isopores.

Agora que estávamos de barriga cheia, chegou a hora de dar um mergulho no rio antes que a luz do dia acabe. No ponto mais próximo do acampamento, o sol não conseguia alcançar o solo devido aos galhos da grande arvore então, fomos para o dique. Lá sim, daria para tomar um banho, sossegado com hidromassagem de um lado e águas calmas do outro.

Enquanto Gleidson se preparava para entrar na água, resolvi buscar nossas coisas. Como naquele lugar não havia mais ninguém além de nós, acho que nosso banho vai ser bem agradável. Está tudo tão perfeito que não vejo problemas em cometer umas extravagâncias.

(continua…)

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